terça-feira, 10 de setembro de 2013

O fim dos tempos

Sentava-se do outro lado da sala.
Falamo-nos o seguinte.

"Vais morrer"

Vou! Por tão bruto anúncio?

"Esperavas diferente?"

Ora, que tenho por certa a chegada deste dia! Estimei-o em meu espírito na mais tenra idade. Não vejo, contudo, a causa de tanta frieza. Não és tu como a mim?

"Não"

Nestes termos, recuso-me a morrer.

"Vais morrer"

Não vou.

"Veja. Me aproximo de ti"

Não! Te afasta. Dançarei de tua dança

"Não toco a lira"

Há homens vis! Bebi de teu sangue, não vês?

"Não tenho sangue"

Comi de tua carne, deitei-me a teu lado, nutri tua semente.

"Não tenho carne"

Ora, vivi em teu nome, clamei teu calor, adorei tua presença! Eu e tantos. Cães vagabundos, pobres diabos, expurgos da peste. Reunidos por teu ídolo, teu porte, teu ser. Ceifados agora pelo próprio Tinhoso?

"Não sou o demônio".

És o Cão. És o Fogo!

"Levanto meu véu. Vês aqui meu rosto?"

Não vejo a nada.

"Enxergas o Cão? A Luz? O Enxofre?"

Miro tua fronte. Não há nada aí.

"Enxergas a ti?"

Se não! Não és como eu.

"Miras um conhecido"

Por que veio até mim?

"Anuncio que vais morrer"

Que há do outro lado?

"Não há o outro lado"

São todos como a ti?

"Não há outros"

Leva-me, então.

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